ZÉ DA SILVA
Encarei a marmita, sem perder o status.
sem agasalho, ganhei no tapa do frio,
encarei, conformado, o salário mínimo
Várias vezes jantei uma média com pão.
Dormi sob viadutos, andei de camburão,
e muitas vezes sonhava colorido,
mesmo dormindo no duro chão
manuseei por sobrevivência uma enxada,
fui bóia-fria, fui explorado sem opção,
encarei, por varias vezes, filas do INSS,
já fui internado como indigente,
servi de cobaia sem ser consultado,
muitas vezes detido para averiguação,
torturado pela banda podre da policia
confessei em inglês,francês e alemão,
levando porradas me tornei polliglota,
sem nunca ter frequentado uma escola.
De repente fui taxado de problema social.
PROBLEMA SOCIAL UMA OVA!!
Eu mesmo me considero uma herói,
tem marmanjo que, por muito menos,
deixou a pátria amada se cagando de medo.
eu não, e se preciso for, morrerei por ela.
Agora, enquanto o herói aqui estiver vivo,
cobrará sua estátua e as merecedoras medalhas.
Tem nêgo ai, que não fez nada,
não passou por nada e tem estátua,
tem estátua até de nego do estrangeiro...
Eu, Zé da Silva, vulgo Zé Povão,
filho da pátria amada, desempregado,
desabrigado, desqualificado, atordoado,
exijo minha estátua de bronze,
bem polida, bem bonita,
em tamanho natural,
e cravada no seu pedestal um refrão:
"Zé da Silva, Herói Zezin, Zé Povão"
MORREU VÍTIMA DA CORRUPÇÃO"
e logo abaixo, bem vultoso, polido,
brilhando feito um danado,
a impressão digital do meu dedão.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Benedito Morais de Carvalho (benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (benê) em 25/02/2018
Alterado em 31/03/2021