Benedito Morais de Carvalho(Benê)
NÃO SOU POETA, SOU UM ARRUMADOR DE PALAVRAS.
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Textos
Por ser pavio curto e desatinado, quando contrariado, perde a compostura facilmente, capaz de agredir a própria mãe, se chamado pelo apelido de Fulô.
Por ocasião da inauguração do chafariz - até hoje sem água- no Beco do Suspiro, um deputado convidado  lá de Brasilia, expecialmente para o evento, começou a discursar para os presentes:
-Meus correligionários, a construção desse chafariz, esse verdadeiro oasis, somente foi possivel graças ao empenho inegável do intrépido Fulô aqui presente.
A platéia, insuflada, ria a aplaudia frenéticamente, mas pela perspectiva de usar o chafariz do que o discurso do ilustre convidado. Foi quando o vereador Florisvaldo, visivelmente irritado, ajeitou as calças, fungou o nariz, deu uma cuspidela de lado e rasgou o verbo:
-Incelentiçimo Sr Deputado, alguém "riram" da sua piada, porém não "foram" eu. E tem mais uma "cousa": não sou "paiaço" (palhaço), não sou "intérprico" (intérprete) "cousa" alguma, pois nunca fui "poligrota" (poliglota) e meu nome é Florisvaldo Constantinopla de Valência. Fulô é a puta que pariu "Voça Incelença". Seu "dotozim" de merda, no dia que eu "prantá" a faca nos "coro" de um "fio" de rapariga, ele vai todo "fulorado" direto pro "sumitério" (cemitério).
O deputado, constrangido, concluiu que fora vítima de uma gozação dos matutos, por ter sido informado erroneamente que o polêmico vereador se deleitava quando chamado pelo carinhoso apelido de Fulô.
O meio de transporte em Muçambê sempre foi escasso. O Fenemê do Genésio somente é usado para cargas pesadas, a fubica do Zé bufinha é mais usada para os passeios, arruaças e noitadas nos cabarés das cidades de Caxitoré e Itapipoca; e a Rural Willys do prefeito é mais usada como ambulância, exclusivamente para acudir algum eleitor dele em uma emergência. Zé Preá famoso pé de valsa e raparigueiro contumaz, até tentou inaugurar um cabaré em Muçambê, importando duas quengas do lugarejo de Quipopá. Mas a primeira dama juntamente com as outras soçaites tangeram o Zé Preá, com mala, quengas e tudo, lá para as bandas de Quiterianópolis.
A festa de São Benedito é o evento mais aguardado do ano. Os moradores esquecem todas as dificuldades e não medem esforços para organizar e festejar o seu padroeiro. O povoado visivelmente sofre mudanças significativas: a capela é caiada, lavada e espanada; o altar, ornamentado com novas flores, castiçais polídos; os benjamins da pracinha, podados e iluminados com lâmpadas coloridas trazidas do Paraguai. A bandinha de pífanos comandada por Roflésio Beiçudo, sai tocando animada de porta em porta carregando a imagem de São Benedito, angariando trocados para as cachaças e fumo de rolo dos tocadores, dizendo eles, pertencer ao Santo. A Pensão da Dona Edileuza fica lotadinha de devotos arranchados vindos dos sítios adjacentes especialmente para a festa do Santo Padroeiro. A rua das Muriçocas, reduzida a dois quarteirões, torna-se intransitável com os rebuliços dos cavaleiros vaidosos se exibindo nas suas montarias, buscando impressionar as moiçolas casadoiras que timidamente espreitam os seus exibidos pretendentes, empinando seus fogosos alazões. Á noite, a novena, os fogos, a procissão. Na quermesse, aluá de abacaxí, pé de moleque, maça do amor, picolés, roletes e garapa de cana, se embalançar nas canoas do parque de diversões São Tomé. Outra grande atração na festa do Santo Padroeiro, é a chegada do circo Mambembe São Severino já conhecido por sua tradicional lona esburaquenta e pelo velho palhaço Pudim que em forma de propaganda desfila pelo Vilarejo se equilibrando nas suas pernas de pau, sai gritando:
-Benedito Bacurau!!
E a meninada em coro responde
-Tá no oco do pau!
É o convite explicito do velho palhaço para os matutos que comparecem em peso ao espetáculo circense e, empoleirados, aplaudem boquiabertos as rumbeiras Tita e Teca metidas nos seus puídos e desbotados biquinis, exibindo na dança sensual os pares de coxas definhadas e seios flácidos.
Todo ano, na festa de São Benedito, o guarda Ambrósio costuma reunir em sua residência os violeiros Téo Galo e Cego Abel, para a tradicional esperada peleja . No terreiro da casa, os tamboretes arrumados em circulo para acomodar os curiosos. No centro da roda, uma cuia como chamariz para arrecadar trocados para os pelejadores que dedilham as violas em afinações, aguardando anisiosos as investidas dos motejadores entre os convidados. Não demorou muito o desafio, e uma gargalhada reboou entre os presentes. Era a derrota humilhante do Téo Galo que, cantando de galo no início, saiu arrepiado como um pinto goguento.  E Cego Abel, animado com os aplausos da platéia, proseguiu a cantoria sozinho entoando versos so seu ídolo maior, também cego, o famoso Aderaldo, que dizia mais ou menos assim:
" A saudade é companheira
  De quem não tem companhia".

Glosa
Eu vivo assim tão sozinho,
Sem ter mulher, sem esposa,
Como triste mariposa
Voando pelo caminho...
Como pássaro sem ninho
Vivendo sem alegria,
Aqui nesta terra fria,
Longe da minha ribeira,
" A saudade é companheira
" De quem não tem companhia!

Livro: A Vaquinha da Primeira Dama
Editora CEPE (1998)
Págs 15 e 19


 
Benedito Morais de Carvalho (benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (benê) em 19/05/2018
Alterado em 19/05/2018
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