Benedito Morais de Carvalho(Benê)
NÃO SOU POETA, SOU UM ARRUMADOR DE PALAVRAS.
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CUNHADOS: UM É POUCO, DEZ É DEMAIS

 

     Era um domingo quente em Recife. Eu, nervoso como quem enfrenta uma entrevista de emprego dos sonhos, estava prestes a conhecer meus cunhados. Para impressioná-los - afinal, fama de cunhado festeiro é coisa séria - decidi apostar em algo infalível: cerveja. Não qualquer quantidade de cerveja, mas dez engradados, ou seja, cento e vinte latinhas brilhando como promessas de fraternidade líquida.

     Cheguei ao encontro como um imperador romano após a vitória, os engradados alinhados como tropas ao meu lado. Conversa vai, conversa vem, o papo era só um: Náutico x Sport. O que eu não esperava era que meus cunhados fossem verdadeiros gladiadores do copo. Em dez minutos (sim, eu cronometrei), as cento e vinte latinhas desaparecerem como mágica e de repente todos eles, ao mesmo tempo, saíram para um barzinho nas proximidades da casa e fiquei conversando sozinho. Foi aí que me apareceu a Dona Irene, muito simpática, por sinal. Sentindo meu constrangimento, começou a puxar conversa: "Esses meninos mal-educados são meus filhos". E os nomes deles?, perguntei. Ela, orgulhosamente, respondeu: "O ligeiramente nervoso se chama Pedro; o que me preocupa é o Paulo, que anda sem apetite, Plínio, é o Don Juan do Jardim São Paulo; Petronildo, sonha em  ser modelo fotográfico. Sem condições! Já o caçula dos homens, Polivaldo, tinha vocação para ser cardeal e até chegar a papa, mas sentou na praça na polícia". Foram poucas cervejas para uma cambada de machos feios, pensei comigo. PQP, onde vou amarrar meu jegue?!

     Logo em seguida fui convidado pela gentil senhora para me sentar à mesa para almoçar. O protagonista da ocasião era um pirarucu de respeitáveis seis quilos, acomodado em uma bandeja de prata como um troféu, observado por cinco amáveis cunhadas, com garfos e facas em punho. Mal  sabia ele que estava prestes a entrar para o livro dos recordes... O peixe nunca teve chance. Os cunhados voltaram do barzinho com um leve apetite e se sentaram à mesa também, empunhando seus respectivos talheres. Em exatos cinco minutos - cinco! - testemunhei o fastioso Paulo, com sua boca ágil e entre uma mastigada e outra, devorar o peixe num piscar de olhos. Não sobrou nada para os demais ocupantes da mesa.

     Boquiaberto e faminto, eu olhei atônito para o rabo do peixe que havia sobrado. "Estava ótimo, né?", comentou Seu Miro, o pai da prole, amarelado de fome. Só pude concordar, olhando para a montanha de espinhas do pirarucu. Buscando mudar de assunto, perguntei à anfitriã Dona Irene os nomes das simpáticas e acolhedoras cunhadas que nem viram a marca do peixe. Satisfeitíssima e radiante, me disse: "Minhas lindas filhas se chamam: Edileuza, Elza, Eva, Evalda e Eliane". E eu, comigo mesmo: "Coitadinhas! Sentadas à mesa com esse solidário irmão guloso, além de não tocarem no peixe, correram o risco de perder os dedos das mãos. Arre, Elba!".

 

Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)

 

Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (Benê) em 23/04/2025
Alterado em 10/05/2025
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