ELEGIA À FLORA
Na sombra antiga do bosque onde a vida brotava em silêncio,
Choram as folhas no chão, mortas ao som do machado.
Ergue-se o tronco em protesto, sem voz, mas cheio de mágoa,
Seca-lhe o veio sagrado, já não lhe corre o orvalho.
Antes dançavam os ramos ao sopro gentil das manhãs,
Hoje, em fuligem cobertos, jazem sem rumo ou abrigo.
Cada flor que murchou leva um verso que o mundo esqueceu,
Pois calou-se o jardim, como um livro fechado sem fim.
Seca o perfume no vento, outrora era brisa encantada,
Hoje é poeira a flutuar sobre o campo vazio.
Cantam memórias no tronco, em anéis que o tempo deixou,
Cada camada um suspiro da seiva que ali floresceu.
Onde era verde, há cinzas, ruínas do sonho terrestre,
Semeia o homem desdém onde antes brotava o fulgor.
Mas ainda, em segredo, germina esperança esquecida:
Raízes buscam o fundo, fiéis ao calor do amanhã.
Por entre pedras, renasce uma folha, simples, serena,
Vestígio tímido e forte da vida que insiste em voltar.
Oh, que os olhos se abram, que o gesto reverencie a terra,
Pois a flora que morre nos julga em silêncio mortal.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Obs: O poeta busca dar voz ao que não pode falar.