QUINTAL BENEDITO
Desde cedo, carreguei um desejo nobre: ser eternizado numa placa. Rua Benedito, avenida quem sabe, uma homenagem à altura da minha existência. Corri atrás de políticos, escrevi ofícios imaginários, sonhei alto. Nada.
Abaixei o tom, talvez uma viela. Quem precisa de tráfego intenso quando se tem personalidade? Ainda assim, nada. Parti então para o canto mais modesto da urbanidade: o beco. E aí veio a resposta que me derrubou de vez. Diziam que o "beco não tem CEP" e, o pior, "é muito procurado para se mijar". Humilhação geográfica.
Foi então que tomei a iniciativa. Mandei fazer uma placa de bronze com o meu nome e inaugurei o espaço mais nobre que restava: o quintal de casa. E ali nasceu o Quintal Benedito. Quinze dias de glória. Um legado. Um território conquistado.
Mas meu pai, Expedito, homem prático e dono de um senso de humor ácido, decidiu reformar. Fez um puxadinho, construiu uma edícula e um chiqueiro. E o que antes era o Quintal Benedito virou o lar oficial dos porcos. Minha placa desapareceu entre baldes, tijolos, telhas e cheiro de lavagem.
A placa sumiu, é verdade, mas ficou a história. E quem sabe, um dia, alguém passe por ali e diga: "Aqui já foi o Quintal Benedito". E só isso já vale a homenagem.
Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)