Benedito Morais de Carvalho(Benê)
NÃO SOU POETA, SOU UM ARRUMADOR DE PALAVRAS.
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                                    QUINTAL BENEDITO

 

     Desde cedo, carreguei um desejo nobre: ser eternizado numa placa. Rua Benedito, avenida quem sabe, uma homenagem à altura da minha existência. Corri atrás de políticos, escrevi ofícios imaginários, sonhei alto. Nada.

     Abaixei o tom, talvez uma viela. Quem precisa de tráfego intenso quando se tem personalidade? Ainda assim, nada. Parti então para o canto mais modesto da urbanidade: o beco. E aí veio  a resposta que me derrubou de vez. Diziam que o "beco não tem CEP" e, o pior, "é muito procurado para se mijar". Humilhação geográfica.

     Foi então que tomei a iniciativa. Mandei fazer uma placa de bronze com o meu nome e inaugurei o espaço mais nobre que restava: o quintal de casa. E ali nasceu o Quintal Benedito. Quinze dias de glória. Um legado. Um território conquistado.

     Mas meu pai, Expedito, homem prático e dono de um senso de humor ácido, decidiu reformar. Fez um puxadinho, construiu uma edícula e um chiqueiro. E o que antes era o Quintal Benedito virou o lar oficial dos porcos. Minha placa desapareceu entre baldes, tijolos, telhas e cheiro de lavagem.

     A placa sumiu, é verdade, mas ficou a história. E quem sabe, um dia, alguém passe por ali  e diga: "Aqui já foi o Quintal Benedito". E só isso já vale a homenagem.

 

Autor: Benedito Morais de Carvalho (Benê)

Benedito Morais de Carvalho (Benê)
Enviado por Benedito Morais de Carvalho (Benê) em 13/07/2025
Alterado em 14/07/2025
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